numa sessão solene convocada com o propósito de homenagear o Dia Internacional das Mulheres.
Em discurso, a candidata de Lula como que reduziu a disputa presidencial de 2010 a uma queda-de-braço da saia contra a calça.
"O Brasil está preparado para ter uma mulher presidente", disse Dilma. Sua fala inspira uma pergunta inevitável:
Afinal, uma mulher no comando é garantia de sucessõ? Eis a resposta: não. Repetindo: não. De novo: não.
Mede-se o bom gestor –público ou privado— pelo tamanho de sua competência, não pelo comprimento da saia.
Recorde-se, por oportuno, Zélia Cardoso de Mello. Foi a última mulher a exercitar o poder, em toda sua plenitude, no Estado brasileiro.
Sob Fernando Collor, Zélia foi a czarina da Economia. Produziu confisco de contas, desordem econômica, inflação, estagnação e ruína.
Quando a coisa apertou, Zélia portou-se como mulherzinha: tirou o colega Bernardo Cabral para dançar um bolero.
Dilma fará melhor papel se for à sucessão munida de dados que comprovem o título de gestora competente que Lula lhe atribui.
Até porque, tomada pela fama de durona, a candidata faz supor que, eleita, exercerá uma presidência, por assim dizer, macha.
Não será, aliás, a primeira. Recorde-se Margaret Thatcher. Uma primeira-ministra homem. Evoque-se Indira Gandhi. Homem. Golda Meir. Outra mulher-homem.
Se insistir na plataforma política baseada no sexo, Dilma arrisca-se, de resto, a atrair comparações menos alvissareiras.
Alguém poderá dizer que Dilma frequenta a cena eleitoral como uma espécie de Isabelita Perón à brasileira, sem aliança.
Uma mulher que virou candidata porque Lula, o seu Juan Domingo Perón torto, decidiu casá-la com sua gestão, prometendo à platéia a felicidade eterna.
Desnecessário lembrar que Isabelita entregou aos argentinos o caos e o arbítrio. Melhor evitar o risco do paralelo.
No Brasil, a política tem sido um território de machos. Algo que levou Marina Silva, a outra mulher-candidata, a dizer da tribuna, na mesma solenidade:
"Não é a toa que, só após 500 anos de história de Brasil, tenhamos, pela primeira vez na história deste país - como diz o presidente Lula - a possibilidade de termos mulheres na Presidência...”
“...E isso é uma conquista das mulheres por sua luta nos últimos cem anos, mas é também uma conquista particular da sociedade brasileira".
Verdade. As mulheres romperam, também no Brasil, o escudo de testosterona que as impedia de entrar no jogo. E é bom que isso tenha ocorrido. Porém...
Porém, a conquista pode resultar em desastre se as mulheres derem ouvidos à senadora Serys Slhessarenko (PT-MT), outra mulher que discursou.
"Uma mulher na Presidência é a mulher na Presidência. Somos nós. Eu me sentirei na Presidência da República. Cada mulher
deste país vai se sentir presidente da República”.
Ora, se a “mulher na Presidência” provar-se uma incapaz, “cada mulher deste país” vai ser tomada de vergonha inaudita por “se sentir presidente da República”.
Por sorte, havia em plenário uma mulher com senso crítico. Vale a pena ouvir a senadora Marisa Serrano (PSDB-MS):
"A escolha do próximo chefe da nação não deve pautar-se em questões de gênero, raça ou nível social, mas sim em quem trouxer as melhores propostas para o futuro”.
Vale dizer: assim como a saia que Dilma não gosta de usar não faz dela uma boa presidente, tampouco a calça faz do tucano José Serra uma garantia de êxito.
Na sessão em que o Congresso celebrou o triunfo feminino, o plenário foi adornato com um grande painel.
Trazia os seguintes dizeres: “Mulher na política muda o poder”. Na foto lá do rodapé, Dilma cruza o lema seguida de perto pelo proto-aliado José Sarney (PMDB-AP).
Durante a cerimônia, o presidente do Senado cercara a presidenciável do PT de atenções. Sarney recobrira Dilma de elogios:
"É uma mulher lutadora, vencedora, competente e que realiza, neste instante, um grande trabalho pelo Brasil".
Se virar presidente, Dilma será, no poder, o novo acorrentado ao velho. Arrastará atrás de si os mesmos homens que
se eternizam o arcaico na política brasileira.
Com Serra ou qualquer outro, não há de ser diferente. Uma evidência de que há muito mais em jogo do que uma mera gincana de óvulos e espermatozóides.